"O homem é condenado a ser livre"

                   Com essa afirmação vimos o peso da responsabilidade de sermos livres. Frente a essa liberdade, o ser humano se angustia porque a liberdade implica escolha, que só o próprio indivíduo pode fazer. Muitos de nós paralisamos e, assim, achamos que não fomos obrigados a escolher. Mas a "não ação", por si só, já é uma escolha. A escolha de adiar a existência, adiando os riscos para não errar e gerar culpa, é uma tônica na sociedade contemporânea. Arriscar-se, procurar a autenticidade, é uma tarefa árdua, uma jornada pessoal que o ser deve empreender em busca de si mesmo.

              Sartre foi um grande defensor da liberdade. Acreditava que ser livre é condição própria da humanidade. Ser homem é, por pressuposição, ser livre.
Mas liberdade, na perspectiva sartreana, não é algo que diz respeito aos nossos corpos – ou não apenas à dimensão corporal.
Ao tratar de liberdade, Sartre compreende a própria consciência como um fluxo incessante de idéias, como um fluxo que não é possível domar ou interromper. Estar vivo é habitar e ser habitado por este fluxo de consciência, esse jorrar de pensamentos – ainda que possamos estar fisicamente presos numa maca de um hospital ou nas celas de uma prisão.
E como somos uma consciência livre, somos obrigados a nos reinventarmos a todo instante – daí o paradoxo de Sartre, apresentado na famosa frase "estamos condenados a ser livres" ou naquela outra, ainda mais famosa: "é proibido proibir" que virou inclusive tema de uma canção de Caetano Veloso.

                 Deste modo, somos um ente vivo em constante mudança. E se mudamos sem cessar então não temos uma essência fixa. Um ser humano nunca pode dizer que "é" algo, apenas que "está" numa vivência. A vida pode ser entendida como um "devir", como um "vir a ser". Nenhum de nós nasce pronto, acabado. Nenhum de nós pode se prender a uma única verdade imutável e absoluta. Neste processo de mudanças constantes somos projetos que nós mesmos decidimos ser.

E se não temos uma "essência" pré-determinada, isto significa que somos responsáveis por aquilo que somos, e somos senhores de nossa própria "existência".

Por Flávio Tonnetti