Conflitos

Todas as experiências da vida produzem um conflito psíquico determinado por exigências atuais e passadas, internas e externas que não se pode evitar; ele, o conflito, é condição do ser humano. Fazer escolhas, abrir mão entre uma opção e outra é parte de nosso cotidiano e mesmo freqüentes, são estressantes, porque escolher significa correr riscos, e arriscar muitas vezes significa “perder o chão”. Quando estes conflitos não são tratados com a devida atenção, vamos “empurrando com a barriga“, fazendo acomodações que nos levam a uma vida cheia de contradições. Nossas vontades, interesses e valores, sendo singulares, nem sempre são aceitos pelos outros, e por isso causam choques entre a pessoa e seu ambiente, trazendo aflições em momentos importantes de decisões.


Tomar decisões pressupõe assumir responsabilidades e correr riscos de nem sempre acertar. Porém, tolerar as conseqüências, atribuir menos ao outro as frustrações inevitáveis, assumir sua própria responsabilidade pessoal, certamente irá proporcionar gratificações nas próximas escolhas. Escolher sempre requer uma renúncia, e essa não é uma tarefa fácil. Quando estamos descontentes em relação a um fato e em vez de nos confrontarmos com ele ficamos passivos, deixamos de ganhar força para buscar outras saídas mais saudáveis; ou ainda, se quisermos avançar em alguma situação, sem questionar a causa do desencontro entre vontade e atitude, a possibilidade de mudar a situação a nosso favor é pouco provável.

O ser humano vive constantemente a tensão de ter que relacionar a realidade interna com a externa, sendo necessária essa negociação entre fantasia e realidade para que os desejos possam ser buscados fora do campo da doença. A ausência de compreensão do que incomoda e causa sofrimento pode expressar-se através de sinais como os sintomas, desordem do comportamento, entre outros. Quando os conflitos são vistos somente em torno dos problemas reais da vida, torna-se ainda mais difícil enfrentá-los. Entender o significado dos fatores internos é importante auxílio para uma solução mais eficaz, enquanto no tornamos aptos não só a tomar decisões para alcançar metas, como também se torna possível alcançarmos nossos desejos mais verdadeiros.
Primordial é vislumbrar e assumir uma estrada, onde cada passo representa um trecho de vida, que construo ou destruo. Muitas vezes, destruindo é que construo; mesmo que resista a certas desconstruções no receio do vazio, e que dele advenha a sensação angustiante de quem anda sem bússola. A proposta é andar. E esperar que cada passo inspire o seguinte. E aí, sim, sem bússola, mas também sem medo, descobrir que se o nada é a base - e isso me angustia - o passo decidido é a chave que me faz plena a existência.

                                                                                                       Eliana Bess d'Alcantara - Psicóloga